segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Eu que não ligo à política

Foi um longo teste à paciência do comum cidadão, mas finalmente damos por encerrada esta história de campanha e eleições e debates e cartazes e o camandro..! Quer dizer, agora ainda vem a escolha dos novos Ministros, as reformulações todas, mas isso já não conta. Até porque ninguém consegue assistir à tomada de posse do Primeiro-Ministro e seus apêndices (leia-se Ministros) sem ter a meio um derrame cerebral causado por tamanha quantidade de tédio e falta de vida própria dos seus participantes. A culpa até pode não ser deles, mas é por situações destas que a malta tem tv cabo!

Fazendo agora um balanço daquilo que foi esta palhaçada política, podemos reter as seguintes ideias:

1 – Depois de passar dias a discutir a data, a hora, a marca das águas fornecidas, as cores de gravatas que melhor combinam com o cenário e afins para realizar o único debate com os líderes dos cinco principais partidos políticos, arranje maneira de perder a voz e torná-lo público já no directo. Será a forma mais fácil e eficaz de se tornar a terceira força política portuguesa. Será também a forma mais eficaz de se tornar no primeiro político a não dizer uma única mentira num debate.

2 – Se vir que está na maré de cima e conseguiu já (ainda que só estejamos em projecções) melhores resultados que nas eleições anteriores, faça um discurso triunfante (qual Júlio César..) e aproveite para dar um pontapé nas canelas do verdadeiro vencedor. Mostrará que os pequenos também sabem ser como os grandes. Nem que seja por debaixo da mesa.

3 – Não abrace a ideia de que a vitimização angaria votos. Facadas nas costas e incubadoras não o levam a lado nenhum. Espere até ter perdido completamente, até ter falhado redondamente os seus auto-propostos objectivos, e, perante o silêncio absoluto da sala (pedido por si para aumentar o teor dramático da situação) faça um discurso em directo, emocionado, com uma lágrima no canto do olho. Se puder, demita-se das suas funções. Lembre-se: antes coitadinho sensível que otário com metáforas.

4 – Se for você o vencedor, traga um kleenex no bolso quando subir ao palco para discursar, principalmente se tiver fama de galã. É que as bailarinas brilham, as mulheres transpiram, mas os homens SUAM!



PS (de post scriptum e não de Partido Socialista!) - Não deixa de ser curioso que os últimos actos eleitorais a nível legislativo neste país não tenham representado a escolha partidária da maioria da população portuguesa, mas antes tenham sido um castigo a um governo falhado. A questão que agora se põe é: será que nas próximas eleições poderemos finalmente escolher um Primeiro-Ministro e seu governo (sim, eu sei.. o politicamente correcto é dizer que as legislativas servem para eleger deputados e não um Primeiro-Ministro, mas se até ao Paulo Portas já pouco interessa o politicamente correcto.. porque não a mim?!) baseados nos seus programas, nas suas propostas, nas suas capacidades? Ou será que vamos ter de novamente castigar e retirar do poder um grupo de trabalho que se espalhou ao comprido a brincar aos escritórios?

2 inputs:

Anónimo disse...

Minha estimada conterrânea,

É um prazer descobrir as suas mais profundas opiniões sobre política. A menina tem a oportunidade de encontrar as respostas às suas dúvida (excluindo as existenciais) na biblioteca do seu pai. Pessoa mui estimada.
Aconselho-lhe Martiny Dry. Best regards

Anónimo disse...

Quatro Casamentos e um Funeral

O António afiançara à Maria que a vida seria um mar de rosas e cheia de
prosperidade. O casamento foi feliz e despreocupado. O António era um gastador
compulsivo mas a Maria não queria saber nada dessas coisas de dinheiro. "A
família não são números", proclamava o António a quem lhe chamava a atenção para
os excessos. O que interessava era a qualidade de vida, as grandes festas e as
aparências.

Quando um dia, repentinamente, o António fugiu de casa deixando apenas as
prestações das dívidas por pagar, a Maria entrou em desespero. Estava de tanga.
Atemorizada, casou com o Zé Manel, depois de um curto namoro. Afinal, o Zé Manel
parecia ser bem mais ajuízado que o António e talvez trouxesse alguma ordem às
finanças lá da casa.

Os rapazes sentiram logo algumas diferenças. As semanadas foram congeladas, o Zé
Manel não lhes dava dinheiro para o autocarro e o discurso
mudara: "Temos que poupar, não podemos gastar o que não temos", dizia o Zé
Manel. Mas aquilo era só da boca para fora. Os costumes da família estavam bem
enraízados e, no essencial, tudo continuou como no tempo do António.

Apesar das dívidas cada vez maiores, não se cortava na cozinha, nem nas férias,
nem nas contas da água, da luz ou do telefone. Nunca se dizia que não a um
livro, a um disco ou a uma ida ao cinema. Não se mexia em direitos adquiridos.
Por vezes o gerente da Caixa telefonava, inquietado com o saldo do cartão de
crédito. E de vez em quando vendiam algumas jóias antigas para acalmar os
credores.

Até que um dia o Zé Manel anunciou que se ia embora. Arranjara um emprego no
estrangeiro, muito bem pago. E disse à Maria: "Não te preocupes, eu vou-me
embora mas arranjei-te marido novo. Casas-te com o Pedro. Ele cuida de ti."

A Maria assim fez mas o enlace durou pouco. O Pedro era um bocado estouvado e
tinha alguns amigos pouco recomendáveis. O pai da Maria não gostava dele nem um
bocadinho e fez-lhe a vida negra. E um dia, o Pedro chegou a casa e descobriu
que tinha a mala nas escadas.

Agora a Maria vai casar com o José. Foi o pai dela que arranjou o casamento. O
José faz-lhe lembrar o António, de quem era muito amigo. O José propõe-se gerir
as finanças familiares de outra maneira. Quando a Maria lhe pergunta como é que
ele vai fazer ele explica: "É fácil, o objectivo é sermos felizes."

O José já prometeu que as semanadas das crianças vão ser aumentadas, porque é
uma vergonha que os nossos filhos tenham menos dinheiro que os filhos dos
outros. Vai comprar um computador lá para casa e ligá-lo à Internet, em banda
larga. Vai haver telemóveis para todos. "É um choque tecnológico", explica ele.
E promete à Maria, que continua a ser a única a trabalhar lá em casa, que não
vai precisar de lhe dar nem mais um tostão. O José vai gerir a casa com o que
tem. E daqui para a frente, quem paga o café e os cigarros é ele. Essa mania do
consumidor-pagador já era.

Soa a banha da cobra mas a Maria quer marido e os bons pretendentes não
aparecem. A família da Maria gosta do José. Parece que vem aí um tempo novo e os
rapazes já estão fartos de más notícias. O José é recebido lá em casa de braços
abertos.

As más surpresas vão começar a chegar lá para o fim da Primavera. E um dia,
alguém vai reparar que o título desta história é "Quatro Casamentos e Um
Funeral".

Para ti que não ligas à politica!!! :)

Ps: Segue o conselho do "Barreiro forever" e vai dar uma vista de olhos na biblioteca do teu pai...lol