sábado, 5 de fevereiro de 2011

[saudosismos]

[Quando, já pronta, descia do quarto para a cozinha, já o pequeno-almoço ia adiantado. Ainda assim, agora já menos mimosa e ensonada, tentava sempre ajudar a fazer alguma coisa. Enquanto isto, embora sempre atrasado, andava o pai na sua demorada rotina matinal. A janela da cozinha era a moldura para a primeira imagem do dia. O céu desenhava-se naquela janela e a lareira na sala deixava adivinhar a força do vento. A viagem até à escola era de carro, não tanto pela distância mas mais pelo frio. A verdade é que sempre adorei fazer aquele caminho a pé.

A chegada à escola era invariavelmente marcada por um forte arrepio. Daqueles que gelam até ao osso porque não há roupa que o trave. Entrava pela estreita porta que dava para o pátio. Era o maior dos três. Vestido com algumas pedras de calçada e pontuado com escassas árvores. Os muros que o delineavam não me prendiam, apenas faziam, nos meus olhos, a moldura branca imaculada, perfeita!, para o céu que nos cobria. Era para lá que olhava inúmeras vezes ao longo de todo o dia.

Tínhamos uma sala grande, com chão de tacos de madeira e umas janelas gigantes quase a roçar o tecto altíssimo. Dois quadros de ardósia, um de cada lado da porta, e uma secretária de madeira, possante, para a Senhora Professora (assim, com maiúsculas), sentada à nossa direita. Os lugares respeitavam a inescrita regra de organização de uma turma: bons alunos nas mesas mais próximas do quadro, melhores amigos lado a lado, maus alunos e distraídos nas mesas mais escondidas ou afastadas da secretária do professor. A excepção só era criada quando, por algum motivo sempre superior e inquestionável, a Senhora Professora ordenava que alguém trocasse de lugar.]

1 inputs:

Anónimo disse...

Saudosismo bonito e, também graças à Senhora Professora, um escrito bonito de conteúdo, de rigor e de estilo.
Esta "história" eu vivi !!!
Bj