sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

[saudosismos]

[O dia começava com um despertar vagaroso ao som suave das pantufas da mãe a escalarem os degraus até ao nosso quarto. Era um sótão com o tecto esconso, em madeira escura, mais baixo na zona das camas. Tinha umas janelas não muito grandes que mais (me) serviam de porta para o telhado. Acordava com as festas carinhosas de uma mãe ainda ensonada, mas já pronta para um novo dia. O mesmo acontecia à mana, profundamente adormecida na cama ao lado. Enquanto uma ia tratar da higiene matinal na casa-de-banho, a outra ficava a adiantar o vestir e calçar com a ajuda da mãe. Era quase uma dança ensaiada, a mãe de pé, frente à cama, e eu sentada: estica braços, tira camisola do pijama, veste camisolas interiores (no plural), veste camisa, mãe aperta botões de cima, eu aperto botões de baixo, enfia tudo isso para dentro dos collants (sempre dos mais grossos que havia), veste camisolão, tira calças do pijama, veste primeiro par de meias, veste segundo par de meias, veste calças, calça botas. O “turno” trocava e agora era a minha vez de usar a casa-de-banho.]