segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ai a minha vida..

Senhor estranho: - Boa noite! Aaaannnn.. [longa pausa contemplativa de não se sabe bem o quê] … A senhora tem um *carro magnífico com a matrícula TH-B3S1*?

Eu ligeiramente supreendida com a pergunta e ainda irritada com a longa pausa contemplativa de não se sabe bem o quê: - Tenho!

Senhor estranho em modo PIDE: - E é um Smart?

Eu a achar que estava perante um truque de magia: - Sim!

Senhor estranho modo PIDE: - E é *da melhor cor que poderia ser*?

Eu a ver onde aquilo ia dar: - É!

Senhor estranho, modo PIDE, agora com holofote apontado aos meus olhos: - E a senhora esteve envolvida num acidente ocorrido há dois dias numa estrada em Barcelos?

Eu a começar a responder com um semi-riso de incredulidade: - Não!

Senhor estranho, modo PIDE, ainda com holofote: - A senhora não foi RESPONSÁVEL por um acidente há dois dias numa estrada em Barcelos e depois pôs-se em fuga?

Eu a olhar em volta à procura das câmaras escondidas dos apanhados: - Não!

Senhor estranho, modo PIDE, holofote, peito inchado, pelo no peito e, adivinha-se, fio de ouro de considerável dimensão e cor dourada: - É que eu tenho três testemunhas que viram o seu carro a provocar o acidente que tive há dois dias e confirmaram-me a sua matrícula.. as três pessoas!

Eu em modo não-mas-agora-a-sério-vá: - Pois, mas olhe, eu estava a trabalhar, fora do país e o meu carro estava parado no parque de estacionamento, portanto é completamente imposs´vel ter sido eu ou o meu carro.

Senhor estranho, modo PIDE-pia-mais-baixinho-agora-que-isto-afinal-não-está-a-correr-bem-como-eu-queria: - Ahh.. mas e não pode ter sido alguém com o seu carro?

Eu em modo não-sei-se-ria-não-sei-se-chore: - Não!

Senhor estranho, modo PIDE-pia-mais-baixinho-agora-que-isto-afinal-não-está-mesmo-nada-a-correr-como-eu-queria-e-já-não-sei-bem-o-que-dizer: - Então mas.. mas consegue provar isso? … É que eu não quero o mal dos outros, mas também não quero o meu mal, está a perceber..?


De referir que esta magnífica personagem fez questão de referir que me estava a ligar porque, sendo funcionário público e tendo (sabe deus nosso pai como!) a minha matrícula, tinha tido acesso e estava na posse de todos os meus dados pessoais (contacto, morada, BI, contribuinte, etc). Não terá tido tempo ou oportunidade a dita personagem de se informar para descobrir que o que fez é completamente proibido, sendo que as palavras “funcionário” e “público” não lhe dão propriamente poderes absolutos.

De referir também que a restante conversa manteve toda ela este registo surreal, o que me leva ao muito usado por toda a gente velho chavão “Isto só a mim..!”.


*dados alterados por motivos de preservação de privacidade (minha!) podendo ter havido recurso a algum embelezamento dos sujeitos referidos, o que é perfeitamente aceitável e concordante com os mesmos (e quem disser o contrário é ovo podre).