terça-feira, 16 de junho de 2009

(mais) Coisas parvas

Cometi a proeza de me arranhar a mim mesma. Com a unhaca de um dos polegares, fui-me a caminho do outro polegar e arranquei-lhe, em comprimento, quase um centímetro de pele. Foi daquelas feridas superficiais, daquelas em que mal aparece o sangue que nos corre lá dentro. Daquelas que quando mostramos aos amigos levamos logo um “Mas ca ganda menina!” e engolimos em seco porque percebemos que aquele foi o fim das lamentações. Mas é uma ferida tramada, essa superficial. Porque não é daquelas profundas, que jorram sangue até ao disparate, que ensopam rolos inteiros de papel higiénico (à falta de melhor), que doem um bocado mas cuja memória só lembra o sangue (que jorrava). Não é dessas. Mas dói. À brava. Exactamente por isso. Porque está ali, à flor da pele (ah, ah, ah), naquele pedacinho mínimo de tecido que faz toda a diferença, a apanhar ar onde ele não devia tocar e, por isso mesmo, a arder permanentemente, sempre no sítio mais incómodo com o qual vamos bater em mil e uma coisas durante todo o período de cicatrização, sempre no sítio mais incómodo onde toda a gente nos vai tocar durante todo o período de cicatrização. São feridas pequenas que fazem toda a diferença. Eu que o diga.