domingo, 12 de abril de 2009

Olá, eu sou a mir e também não posso ir de calças de ganga para o trabalho.

Parece que anda meio Portugal muito indignado por as funcionárias da nova Loja do Cidadão de Faro terem sido proibidas de usar “saias curtas, decotes exagerados, gangas e perfumes agressivos”. Segundo relatou o Público, esta norma “faz parte do conjunto de regras exigidas, no âmbito da modernização administrativa, para que seja construída uma imagem de “qualidade” do serviço público”.

Pois bem, é assim: eu concordo! Com todas as letras o digo e escrevo. Mais, escrevesse eu o regulamento que inclui essas ditas normas e não era só de saias e decotes que falava. Levavam também com umas certas regras relativas a aplicações dentárias brilhantes, a géis e lacas e ceras no cabelo, a unhas desproporcionadas com desenhos e aplicações do medo, a roupas interiores à vista, e demais atrocidades que por esse serviço público (e privado!) português afora se vê!

Não me lixem, a imagem É importante! É através da imagem que se transmitem características como confiança, credibilidade, qualidade, eficiência, excelência, simpatia, etc. É quem lida com o público, no atendimento directo, em pessoa ou por telefone, que “faz” a imagem da empresa. Se uma pessoa for a um escritório de advogados contratar um profissional que o represente em Tribunal e lhe aparecer um marmanjo de calções, t-shirt, havainas, boné e palito na boca é a esse fulano que se vai pagar centenas ou milhares de euros para fazer o serviço?! Vamos todos sair do escritório a comentar a sua imensa perícia técnica na análise do caso ou a espalhar a destreza com que ele passava o palito do canto esquerdo para o direito da boca enquanto falava eloquentemente sobre o ónus da prova? E se a pessoa tiver os dentes podres? E se cheirar a sovaco? Se as unhas estiverem pretas de tão sujas e o cabelo brilhante de tanto óleo?

Talvez eu seja muito esquisitinha e goste de embirrar, o que não deixa de ser verdade, mas alguém gosta de ver o fio dental de qualquer mulher que seja a sair-lhe pelas calças acima? Alguém consegue reparar noutra coisa que não as ditas cujas numa mulher que traz a camisola três números abaixo e um decote até ao umbigo? E as barriguinhas à mostra? E as camisas sujas, amarrotadas e a cheirarem mal? E a gravata de bolinhas com a camisa de xadrez largo e o fato de riscas finas? E o cabelo impregnado de gel?

Administradores de empresas, homens ou mulheres, que eu saiba, não vão trabalhar de ténis, nem de camisa havaiana, nem de calções, nem de fato-de-treino. Da mesma forma que os médicos, homens ou mulheres, vistam o que vestirem, têm de lhe pôr a bata por cima. Tal como, arrisco dizer, um tatuador que apareça com o corpo sem uma gota de tinta e vestido de fato e gravata não vai angariar muitos clientes.

Os homens só não são tão punidos e controlados a nível de indumentária para o trabalho porque o seu vestuário, grosso modo, é mais limitado que o das mulheres e, portanto, resulta num menor número de combinações possíveis dignas de uma verdadeira atrocidade.

Por outro lado [sim, está bem, não sou muito boa nisto de ter ideias fixas e determinadas e não ceder um milímetro], há uma invenção muito porreira, mais ou menos recente, antiga vá, a que chamaram.. a ver se digo bem.. fardas! É isso. Uma maravilha no que toca a uniformizar a imagem de uma empresa e, simultaneamente, conseguir fazer respeitar todas as premissas que se queiram a nível de vestuário.

E isto leva-me a questionar: se a nova Loja do Cidadão de Faro tivesse simplesmente implementado um fardamento para todos os funcionários isso teria sido notícia?