quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Tenho acordado com as músicas mais estranhas no pensamento. Estranhas porque não são músicas de que goste, ou que sequer tenha ouvido recentemente. Não sonho com elas, nem falo acerca delas antes ou depois de me deitar. E, ainda assim, ainda mal cheguei à casinha (leia-se casa-de-banho) para os meus afazeres matinais (leia-se chichi) e já dou comigo a cantarolar.

A mais recorrente tem sido esta:

Quando eu vi olhos de ameixa e a boca de amora silvestre
Tanto mel, tanto sol, nessa tua madeixa, perfil sumarento e agreste

Foi a certeza que eras tu, o meu doce de uva
E nós sobre a mesa, o amor de morango e cajú

Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca, ohoh...

Tens na pele travo a laranja e no beijo três gomos de riso
Tanto mel, tanto sol, fruta, sumo, água fresca, provei e perdi o juízo

Foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho
E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi

Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem... vem... vem cá, tenho sede, quero o teu amor d'água fresca

Composição: Nandina Veloso & Rosa Lobato de Faria


Dina e Rosinha, meus amores, não me levem a mal quando disse que eram músicas de que não gosto. Não sendo o nº 1 da minha lista de favoritas do Festival da Canção, muitas já foram as ocasiões em que me diverti ao som desta vossa melodia. E, diga-se, bate aos pontos os mais recentes assassinatos de música (ainda que) ligeira que têm sido apresentados a concurso nesse (decrépito) festival. A questão, e é meramente pessoal e eu bem sei que uma música festivaleira tem de agradar a gregos e troianos e, por isso mesmo, ser boa de ficar no ouvido, mas, dizia eu, a questão é que eu dou muita importância à letra. E até sou miúda de gostar das figuras de estilo mais variadas e dos trocadilhos mais rebuscados (só me ocorre o mítico “põe-me na tua lista de supermercado” dos idos Silence4). Mas acordar a pensar “Peguei, trinquei, meti-te na cesta. Dá-me o teu amor de água fresca. Foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho e a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi.” [ler sem cantar para ganhar mais conteúdo e menos melodia] é.. sei lá.. estranho! A pessoa come uma fatia de pão ao pequeno-almoço e aquilo até ganha um sabor.. estranho!

Depois há outras, piores. Piores porque não têm tanta fruta para decorar e têm umas pausas dramáticas, perfeitas para uns truques com o microfone (ou colher de pau, ou comando da tv..). Digamos que têm a combinação perfeita de elementos que fazem com que sejam danadas de sair da cabeça da pessoa. Tipo esta:

Quando você vem com essa cara de menina levada para a brincadeira
Dá-me um arrepio na pele, sinto água na boca, para ficar com você,
Você não tem um pingo de vergonha e todo homem sonha,
Ter alguém assim, realizando minhas fantasias, taras e manias
Você vem pra mim

Uma lady na mesa, uma louca na cama, na maior safadeza,
Você diz que me ama
E na minha cabeça desvairei-o de loucura, quando você começa
Ninguém mais te segura

E mexe, remexe se encosta, se enrosca
Se abre se mostra pra mim
Me agarra, me morde, me arranha,
Não mude que eu quero você sempre assim


É impossível resistir, diga-se o que se disser. Quem nunca cantou uma destas músicas e se deixou levar por uma inventada mas convicta coreografia não é português. É pimba, é ligeiro, mas pega e fica. Há que louvar o que é louvável. Eu bem posso falar que faço-o (o cantar e dançar) logo ao despertar. Mas qual Yoga e Ioga..! Tse..!

O que eu não percebo são os não-sei-quantos mil, dos 9 aos 99, a cantar emocionados de lencinho vermelho no pulso ou no pescoço: “Se gostas de mim, se gosto de ti, se isso não chega tens o mundo ao contrário”. Digno de qualquer criancinha de 1º ciclo, excepto que foi escrito por pessoas que têm filhos já na adolescência! Giro que dói.. ...

Um dia destes desenvolvo o tema: José Cid – Favas com xóriço pa toda a gente