sábado, 23 de agosto de 2008

gorjeta, gorja ou "é prá biquinha"

É uma embirração minha. Tenho várias e gosto de as alimentar. A vida não tem tanta piada se tudo forem rosas e alegrias.

Posto isto, passo a explicar: irritam-me (porque começo sempre com este verbo quando falo das minhas embirrações) as gorjetas e as pessoas que as entendem como obrigatórias. Cada pessoa à sua maneira, com a sua justificação e ponderada percentagem auto-tabelada, irritam-me todos aqueles que acham que quem paga por um serviço tem a obrigação de acrescentar a esse pagamento uma recompensa à pessoa que o efectuou.

Ora, ou muito me engano, ou quando eu peço um café num qualquer estabelecimento público, estou a pagar não apenas o café em grão moído para pó, como também a água, o açúcar, a utilização (ou aluguer) da chávena, pires e colher, a electricidade consumida pela máquina que aquece a água para fazer o café e o trabalho da pessoa que me traz o café ao balcão ou à mesa (para não entrar em mesquinhices tipo a renda do estabelecimento, a compra das cadeiras e das mesas e afins). Da mesma forma, quando adquiro qualquer serviço ou produto e me cobram determinado preço, esse preço não se refere apenas ao serviço ou produto em si que estou a adquirir, mas sim a tudo o que é necessário haver e fazer-se para que tal aconteça.

Sendo que não estou propriamente a ver as coisas por uma perspectiva pessoal ou parcial, apenas realista e concreta, expliquem-me então porque raio é que ainda tenho a obrigação moral de gratificar a pessoa que lidou directamente comigo? Quando, muitas vezes até, não é apenas essa dita pessoa que garante a prestação do serviço, mas sim um grupo de trabalho em que muitos nem chegam a contactar directamente com o cliente!

É algo que me transcende e que me leva a sentir incomodada com olhares reprovadores de pessoas que não têm o direito de o ter. É algo que me faz pensar mais profundamente no tipo de sociedade que leva a estas "regras" e "lógicas" e me faz gostar menos do meu país. É algo que me irrita. Ponto.


Como curiosidade, aqui ficam diferentes “regras” praticadas um pouco por cada canto do mundo:

Espanha – não há taxa definida, como em Portugal.

Reino Unido – nos pubs não se dão gorjetas; eventualmente paga-se um copo ao barman, mas só no interior do país. Nos restaurantes a “regra” estabelece-se nos 10%.

Estados Unidos – entre os 15 e os 20%. Às vezes, sem rodeios, já vem incluído na conta. Quando não vem, o empregado espera a gorjeta na mesma.

China – ninguém, absolutamente ninguém, espera receber qualquer tipo de gorjeta.

Itália – não esperam receber porque incluem uma “taxa de serviço” na conta. Mas se, por cima disso, se deixar gorjeta, ninguém reclama (nem devolve).

França – normalmente 15%, normalmente já incluída na conta.

Canadá – entre 10 a 20% do valor da conta para os mais diferentes serviços.

Austrália – ninguém dá gorjetas na Austrália e ninguém espera recebê-las.

Egipto – educadamente pedem que se deixe umas moedas para os empregados que o atenderam.

Estónia – os empregados gostam de ficar com o troco, mas não se ofendem se o pedir de volta.

México – quase todos os serviço têm uma caixa de gorjetas. Os taxistas são mestres em fazer o cliente deixar gorjeta, muitas vezes sem sequer saber que o está a fazer.

Nova Zelândia – se tentar dar uma gorjeta as pessoas vão ficar ofendidas consigo, por considerarem que o seu gesto significa que as considera suas criadas.


Note to self: actualizar iPod e emigrar para a Austrália ou Nova Zelândia o mais depressa possível. Procurar a viagem mais barata. Estudar a possibilidade de começar a gostar da cultura asiática, caso se revele necessário.

1 inputs:

Anonymous disse...

Na Republica Checa, se enquanto te estiverem a dar o troco disseres obrigada (tipo, se se for bem educado)eles consideram que não queres mais troco ficando com o resto. Por isso, muita atenção e agradecer apenas depois de ter todo o dinheirinho na mão! :)
paula