sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ser ou não ser, sempre a questão.

É algo que me faz constantemente pensar. A própria definição de amizade é em si bastante ambígua, uma vez que cada pessoa tem os seus critérios e “exigências” perante o próximo. Talvez a palavra “amigo” seja muitas vezes utilizada sem a ponderação do seu verdadeiro valor por uma questão de pragmatismo ou facilidade. A questão é que (pelo menos) nós, portugueses, não temos propriamente um termo que correctamente caracterize uma pessoa que, não sendo “amiga”, ultrapassa a barreira de simples “conhecida”.
Há também o critério pessoal, quando o acto está nas nossas mãos, de decidir se é apropriado ou não determinado comportamento ou gesto. Há coisas que só pessoas íntimas têm o “direito” de fazer por outras, sendo isso considerado um “abuso” quando não há de forma explícita uma amizade. Querer ajudar nem sempre é fácil por se poder com isso ofender ou incomodar a outra parte. Há ainda a questão da interacção sexual quando um acto de pura amizade pode ser interpretado como um avanço para um possível interesse sentimental/sexual ou vice-versa. Confesso que não sei se é mais complicado antevê-lo ou lidar com ele depois de consumado.
Pelo lado mais descontraído, há sempre aquelas pessoas que, ao mínimo contacto ou interacção, consideram os outros amigos. Estes serão talvez os casos de todos aqueles que fazem, por exemplo, festas de aniversário dignas de “casamento”, mas que também, no reverso da medalha, muitas vezes se desiludem com os ditos amigos. Estas serão amizades com níveis de exigência menores, em que pouco se espera ou se sente obrigado a dar. Talvez sejam estas as amizades mais honestas, uma vez que, não havendo a “pressão” de se corresponder a um determinado padrão, tudo o que se faz (quando se dá ou recebe) é sincero e com vontade. Por outro lado, muitas destas relações ficam, diria eu, um pouco “à tona”, no “assim-assim”, no “nem sim, nem não, nem antes pelo contrário”.
No fundo, a amizade acaba por ser bastante como o amor em que toda a relação se desenvolve a partir de uma química inicial que ou está lá, ou não está. Uma química que requer a consonância entre as duas partes para que tudo corra bem e ambos olhem no mesmo sentido. Uma química que não se constrói nem se anula, existe por si só e, em si, comanda a vida. Pelo menos na sua vertente da amizade.