terça-feira, 27 de maio de 2008

emprestar sem querer

Roubaram-me o rádio do carro. não é que tivesse grande valor comercial, muito menos era bonito com os seus botões tunning-wannabe e luzes sempre a piscar, qual trip de ácidos, mas dava música e era para isso que eu o queria.
Cheguei ao carro, no dia seguinte a ter-me esquecido de retirar o painel do rádio mas não a antena que guardei religiosamente em casa porque ma podiam roubar (!), e tinha tudo no sítio. Liguei-o e não ouvi o habitual som de uma qualquer estação que passa músicas dignas de divas do volante. Olhei para o rádio e, em vez dele, encontrei três conjuntos de fios eléctricos a saírem de um buraco negro. "Olha que merda!", pensei calmamente porque, bem visto, sou uma pessoa muito calma.
Segui o meu caminho e pensei para comigo (porque gosto muito de falar comigo, especialmente quando estou sem companhia) "foi simpática a pessoa que me levou o rádio.. Teve o cuidado de me destrancar a porta, entrar sem sujar os tapetes, levar o rádio e não mexer em mais nada!". Sim, porque os mapas das estradas de Portugal, Espanha e Europa, bem como o chapéu-de-chuva e a garrafa de água estavam rigorosamente no mesmo sítio.
Lembrei-me imediatamente da situação que me aconteceu há muitos anos quando, depois de me roubarem, sem eu até hoje saber como, a mala numa noite de bairro alto, fui à esquadra dos olivais levantar os meus documentos e chaves. Segundo o agente que me devolveu os meus pertences, tive muita sorte porque fui "roubada por um profissional", palavras dele. Estes "profissionais" são os que roubam e depois devolvem tudo o que não tenha para eles valor comercial. Pelos vistos na altura não havia ainda mercado suficiente de imigrantes a quererem um bilhete de identidade português na faixa etária dos 18-20. Senti-me quase na obrigação de enviar para um qualquer jornal um agradecimento público ao meu tão profissional assaltante. Mas a verdade é que já tinha ido à loja do cidadão tratar da renovação de uma série de documentos e já tinha feito a cópia de todas as chaves e até mudado a fechadura da porta de casa. O profissionalismo, apesar de confirmado, foi tardio. Culpa do assaltante, dos intermediários ou dos trâmites legais, a verdade é que se querem fazer as coisas bem, não podem levar três semanas para devolver os pertences à pessoa roubada. Estão no bom caminho assaltantes, funcionários dos CTT que encontram nos seus marcos do correio os objectos indevidamente roubados e agentes da polícia que os recolhem e devolvem, mas têm de encontrar uma forma de trabalhar melhor em conjunto. Este país assim não anda para a frente.
Desta vez foi a senhora da oficina que me fez sentir a obrigação do agradecimento ao assaltante. Levou o rádio mas deixou os fios todos em perfeitas condições de instalação de um novo rádio. É o profissionalismo sustentado que faz o seu trabalho garantindo as condições ideais para o futuro. Se ao menos os nossos políticos pusessem os olhos nestas pessoas!
Fica aqui, pois, o meu agradecimento a estas duas pessoas. Pena que não tenhamos tido a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente. Suponho que sejam pessoas de grande integridade e princípios. De minha parte, vos garanto, só quero ser assaltada por vós. Dou muito valor à qualidade de um serviço prestado.

1 inputs:

blink disse...

tenho cá um rádio a mais, para ver se faço um dinheirinho extra.. :P