segunda-feira, 21 de maio de 2007

Portas, Paulo Portas

Não é que seja a única pessoa imperfeita. Claro que não. Eu é que embirro mais com umas do que com outras.. Manias!

[…] a grande novidade do Portas-versão-2007 é o reconhecimento de que os horários existem e são para cumprir. Há dois, três anos, estar atrasado era a sua condição natural. “Agora sou pontual. Estou a corrigir os meus erros”, explica com o orgulho de quem sente que há pequenos passos que são grande coisa. Parece um “born again” – mas, em vez de iluminado pela mensagem de Jesus, foi iluminado pelo significado dos relógios.

[…] editor de “O Independente” quando Portas era director do jornal. Nesse tempo, “o Paulo” era o terror dos ministros, recusava usar gravata e jurava ser “geneticamente contra o poder”. Agora, mesmo depois de deixar o poder, parece um ministro.

O propósito de cumprir horários não chega ao segundo compromisso, marcado para o meio-dia. Na A5, em direcção a Lisboa, Portas incentiva o motorista a ir mais depressa. O “senhor Paulo”, que já o conduziu quando era presidente do CDS e ministro da Defesa, sabe o que a casa gasta. Como se há-de comprovar ao longo do dia, as suas infracções de trânsito, que não são poucas, têm em regra a autoria moral do passageiro. Quando chegam às Amoreiras há trânsito, mas Portas vê a direita desimpedida (havia uma boa razão para isso, era faixa Bus). “Vá aí pela direita e depois meta para a esquerda – ordena Portas – que às vezes é o que um partido de direita tem de fazer…”

“Aprendi na política a não coleccionar inimigos, como coleccionei, de forma um pouco inconsciente, no princípio da minha vida.” José Ribeiro e Castro ou Maria José Nogueira Pinto talvez não concordem.

[…] Portas não dá descanso ao telemóvel. Durante a campanha, raramente chega ao fim do dia com bateria. Também não dá descanso aos cigarros (a diferença é que não atira o telemóvel pela janela do carro quando acaba).

Ao fim de mais de uma hora em que observei Portas completamente alheio ao Benfica-Espanyol, pedi para ouvir o relato. Registei a boa vontade de Portas, que fingiu estar interessado, perguntando quatro vezes – quatro! – com que equipa o Benfica estava a jogar.


in Única de 21 Abril 2007